sábado, 2 de junho de 2012

A GRÉCIA e a sua eventual saída do euro

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UMA OPINIÃO PARA LER E NOS FAZER REFLECTIR

Portugal perderia 5% do PIB com saída da Grécia

02/06/2012 | 00:00 | Dinheiro Vivo           

Quanto perdem os credores da Grécia se o país sair da zona euro? Assume-se que, em larga escala, à saída da Grécia se seguiria o default, porque a nova divisa desvalorizaria tanto que o pagamento da dívida em euros seria impossível. O pressuposto está errado.A maior parte da dívida grega é dívida pública e, portanto, terá de ser paga com mais exportações ou redução de importações.
A saída seguida de uma grande desvalorização do novo dracma deve acelerar o crescimento das exportações e provocar uma maior queda nas importações, aumentando assim a capacidade de o país cumprir as suas obrigações relativamente à dívida externa. Depois de uma década de ajuste, a Grécia deverá ser capaz de pagar as suas dívidas.
Qual é a base para o pressuposto de que a saída equivale a um default?
Neste momento, o produto interno bruto (PIB) grego equivale a cerca de 200 mil milhões de euros (por ano). Se a Grécia tivesse de (re)introduzir o dracma, a nova moeda, provavelmente, desvalorizaria cerca de 50%, por isso, o mais provável é que o PIB da Grécia caísse abaixo dos 100 mil milhões de euros. Estes escassos recursos parecem completamente inadequados para pagar os mais de 330 mil milhões de euros que o governo grego deve aos seus credores estrangeiros.
A maior parte da dívida restante do país é devida a credores europeus públicos - principalmente o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e o Banco Central Europeu (BCE). À primeira vista, parece que os credores europeus públicos terão de perdoar a maioria das dívidas da Grécia. No entanto, depois da queda inicial, provavelmente a taxa de câmbio regressará ao seu equilíbrio de longo prazo e o crescimento prosseguirá, diminuindo lentamente a perda de rendimentos.
Além disso, as exportações não descem necessariamente com uma desvalorização. As exportações podem muito bem duplicar ao longo de uma década, levando-as dos cerca de 42 mil milhões de euros atuais (bens somados a serviços) para cerca de 85 mil milhões de euros. Nessa altura, o país poderá muito bem ser capaz de pagar a sua dívida externa, desde que a taxa de juro seja suficientemente baixa.
A saída da Grécia, seguida da introdução do dracma que desvaloriza até 50%, poderá, depois, ser acompanhada do seguinte cenário: o governo grego entra oficialmente em default das suas obrigações restantes para com os credores privados e o sector privado grego será incapaz de pagar a sua dívida externa. Isto implica que os bancos europeus terão de perdoar a maior parte dos restantes 70 mil milhões de euros de exposição à Grécia (e, dado que os bancos dependem do Estado para a sua manutenção, isto também significa, essencialmente, uma perda correspondente para os governos).
Contudo, os credores públicos da zona euro podem dar-se ao luxo de ter uma perspetiva de longo prazo e poderão concordar com um período de suspensão ao abrigo da combinação comum de "alargar e fingir". Vamos supor que os credores públicos concedem um período de carência de dez anos seguido do reembolso completo nos 20 anos seguintes (os termos do último acordo do FEEF) e uma taxa de juro de 1,5% (a taxa atual das obrigações de dívida pública alemã).
Neste cenário, o pagamento da dívida do país (agregando as obrigações do governo grego ao FEEF e a dívida dos bancos ao BCE) seria só de cerca de seis mil milhões por ano, equivalentes a 3% do PIB, o que é um encargo dificilmente insustentável. Isto aplicar-se-ia especificamente ao governo, cujas obrigações internas, entretanto, já teriam desaparecido. Além disso, a transferência necessária de recursos para estrangeiros equivaleria apenas a 6% das receitas totais de exportação, de novo um encargo pouco pesado. E como é provável que o PIB da Grécia cresça em termos nominais muito mais que 1,5%, a capacidade de pagamento da dívida continuaria a aumentar depois de o país se ter ajustado ao novo equilíbrio.
A ironia da situação presente é que o país que tem a maior exposição e que dita muita da política da Grécia (a França, segundo os gráficos da BBC linkados num post anterior) é também aquele que, no final, provavelmente perderá menos (0,3% do PIB).
O peso real de uma saída da Grécia recairia de uma forma desproporcional nos membros mais fracos da zona euro, que seriam atingidos por um golpe duplo dos efeitos de contágio e dos custos fiscais diretos, que para eles seriam dez vezes superiores, alcançando cerca de 2,2% do PIB.


Daniel Gros é economista e diretor do think thank Centro de Estudos de Políticas Europeias



NOTA - Hoje, 03/6/12, estranhamente, sem qualquer explicação e contrariando o que é habitual, este texto desapareceu da rúbrica "Opinião" do jornal on-line "Dinheiro Vivo".
Porquê?


Foi hoje (06/6) reposto!











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